domingo, 29 de abril de 2012

Crise educacional em um mundo em conflitos

O fim da guerra fria, a queda do Muro de Berlim (1989), o desmembramento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a criação e o alargamento da União Europeia, bem como a criação de outros blocos econômicos, mediante acordos regionais, não colaboraram para a construção de um mundo totalmente pacificado em que prevaleceria o respeito mútuo entre culturas, povos, raça, línguas e nações. Vive-se, pelo contrário, um clima de terror através de atos terroristas motivados pelo ódio contra tudo o que é ideologia ou cultura ocidental, sobretudo, tudo o que se refere aos Estados Unidos da América (EUA), considerados pelos radicais muçulmanos como o grande Satanás, o símbolo da perdição e da disseminação de antivalores. 

É imperioso frisar nesse contexto de acontecimentos mundiais que, segundo Hannah Arendt (1992)1 , os aspectos do mundo moderno e de sua crise se revelaram na crise educacional, isto é, quais são os motivos reais para que, durante décadas, se pudessem dizer e fazer coisas em contradição tão flagrante com o bom senso? (p.234) 

De fato, para Arendt, uma crise na educação seria um motivo de preocupação e de instabilidade na sociedade moderna. Trata-se de uma questão de responsabilidade porque educa-se para a vida , evitando-se a destruição.

Sobre o papel relevante de educação, Hannah Arendt afirma:
Basicamente, estamos sempre educando para um mundo que ou já está fora dos eixos ou para aí caminha, pois é essa a situação humana básica, em que o mundo é criado por mãos mortais e serve de lar aos mortais durante tempo limitado. O mundo visto que feito por mortais, se desgasta, e, dado que seus habitantes mudam continuamente, corre o risco de tornar-se mortal como eles. Para preservar o mundo contra a mortalidade de seus criadores e habitantes, ele deve ser, continuamente, posto em ordem. O problema é simplesmente educar de tal modo que um por-em-ordem continue sendo efetivamente possível, ainda que não possa nunca, é claro, ser assegurado. (ARENDT, 1992, P. 243)

 Observa-se, ainda, na sociedade moderna a coexistência do binômio egoísmo e racismo, o antagonismo solidariedade e exclusão social, o paradoxo entre Estados ricos, porém, pobres em recursos naturais, e Estados pobres, mas, riquíssimos em recursos naturais e biodiversidade, a relação ambígua e ambivalente entre a diversificação cultural, populacional como riqueza pela humanidade e a complexidade de ideias e cosmovisões, como fator de divisão e conflitos entre os povos na busca de sua autoafirmação. Em face desta acentuação aparente de abismo entre ricos e pobres, entre Estados desenvolvidos e Estado menos desenvolvidos, ocorrem os conflitos e lutas armadas, guerras sangrentas por diversos motivos, a maioria, ligadas à exploração dos recursos naturais dos Estados menos desenvolvidos para alimentar a indústria ocidental, contribuindo, para tanto, ao crescimento econômico das grandes potências em detrimento dos pobres.  Tal exploração acarreta conflitos sangrentos cujos autores se tornam alvo da Justiça Internacional.

1 O título original é Between Past and Future cuja a última edição data de 1968. As referências se referem à tradução de mauro W. Barbosa de Almeida publicada pela Editora Perspectiva S.A em 1992.

Sebastien Kiwonghi "é advogado e professor de Direito Internacional e Metodologia da Pesquisa na Escola Superior Dom Helder Câmara. Padre Verbita graduado em Filosofia pelo Institut de Philosophie Saint Augustin, IPSA, Zaire (África). Graduado em Teologia pelo Institut de Théologie Eugène de Mazenod, ITEM, Zaire (África). Graduado em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior de Juiz de Fora (MG). Especialista em Direito Civil e Processo Civil, em Direito do Trabalho e Previdenciário, licenciatura em filosofia na UFJF. Mestre e doutor em Direito Internacional pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais." 

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